Na tarde de sábado, 11 de novembro,  no auditório da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, aconteceu a 2ª edição do Festival Confluentes. Tendo como tema central a relação entre tecnologia e democracia, com foco nas implicações políticas, sociais e culturais, o evento – gratuito e com muita participação do público – teve início com as palavras da idealizadora do projeto, Inês Mindlin Lafer, que ressaltou a importância da força do coletividade em ações que buscam fazer do mundo um lugar melhor.

Com o tema “Tecnologia e as ameaças à democracia”, a mesa de abertura contou com a jornalista Malu Gaspar, colunista do jornal O Globo, entrevistando por vídeo o jornalista norte-americano Max Fisher, autor do livro “A máquina do caos: como as redes sociais reprogramaram nossa mente e nosso mundo” (Todavia), lançado este ano no Brasil.

“Diversos estudos têm mostrado que todas as plataformas sociais tendem a promover visões, opiniões e atitudes de direita e, especialmente, de extrema direita mais do que outras. E não é que elas agem promovendo apenas a direita. Qualquer que seja sua identificação, seja política, religiosa, de nacionalidade ou raça, as mídias sociais vão te fazer se relacionar com ela de maneira mais intensa, aumentando a sensação de polarização em relação ao outro”, disse Fisher.

O repórter do The New York Times também abordou o conflito entre Israel e Palestina e lembrou como as redes sociais tiveram um papel positivo em 2014, época em que ainda eram “muito mais neutras”, ajudando o mundo a entender o que estava acontecendo em Gaza e Israel.

Dando sequência à programação, o jornalista Pedro Doria, diretor do canal @Meio , fez um mini-TED sobre radicalização e a dificuldade de diálogo num ambiente de extremos. “O que todos os grupos de pessoas que se isolam em torno de identidades e põe essas identidades em oposição a todos têm em comum é sempre história. A história da injustiça que estão sofrendo. O problema é que paramos de contar histórias sobre o que nos une e escolhemos contar histórias sobre tudo o que nos separa”, afirmou

Em seguida, a ativista, escritora e consultora em diversidade e inclusão Winnie Bueno, por meio de uma curadoria de fotos, mostrou que as imagens – e os algoritmos por trás delas – têm muito a expressar sobre igualdade, representatividade e dinâmicas de poder. “Se passarmos a associar mulheres negras ao poder, começamos a criar uma nova narrativa. Se seguirmos reproduzindo as mesmas imagens, impedimos meninas e mulheres negras e periféricas de sonhar.”

O quarto encontro foi o mini-TED “Vozes da equidade”, em que Thuane Nascimento, diretora-executiva da PerifaConnection, compartilhou experiências e perspectivas para refletir como as tecnologias e a democracia se entrelaçam desde o passado para construir o futuro. “O instrumento de tecnologia de sobrevivência do negro no Brasil é o território. Ou seja, a periferia, que foi onde conseguimos criar nossa cultura. Viver à margem permitiu que estivéssemos vivos até hoje.”

“Big techs, regulação, políticas públicas e cultura” foi o tema da mesa seguinte, reunindo os advogados Humberto Ribeiro, diretor jurídico do Sleeping Giants Brasil , Estela Aranha, assessora especial de Direitos Digitais no Ministério da Justiça e Segurança Pública, e Gabriel Sampaio, da Conectas Direitos Humanos. O debate, com mediação da jornalista Mara Luquet, do Canal MyNews , girou em torno das maneiras pelas quais a tecnologia pode ser usada para aumentar a transparência das políticas públicas, fortalecendo a cidadania.

Para encerrar, o advogado e cientista social Caio Vieira Machado, do Instituto Vero, organização comprometida com a construção de soluções para o combate à desinformação, e a roteirista Juliana Wallauer, apresentadora do Mamilos Podcast, bateram um papo sobre o que esperar das plataformas e big techs num futuro próximo. Para Caio, “a moderação de conteúdo é o grande desafio desta década”.

O 2º Festival Confluentes teve apoio da Open Society Foundations, da Alumni FGV EAESP, do Canal MyNews, da revista piauí , da Trip e da Pensata . Agradecemos demais a todo mundo que nos apoio ou e passou por lá! Em 2024 tem mais.