Defensoras da Amazônia são mulheres que dedicam seu tempo, energia e esforços para proteger a floresta e suas riquezas naturais, bem como os direitos humanos das comunidades que habitam a região.
Elas atuam na linha de frente do combate a uma série de ameaças, incluindo exploração ilegal de recursos naturais, invasão de terras, crimes ambientais, desmatamento, poluição e efeitos das mudanças climáticas, entre outros. Suas origens podem ser diversas, mas todas compartilham um compromisso profundo com a preservação desse ecossistema crítico e com a proteção dos modos de vida das populações locais que dependem da floresta.
Porém, um estudo recente conduzido pelo Instituto Igarapé, organização apoiada pelo Confluentes, trouxe à tona uma realidade preocupante enfrentada pelas defensoras da Amazônia no Brasil, Colômbia e Peru: das 287 mulheres entrevistadas, quase a metade relatou ter sofrido algum tipo de violência entre 2021 e 2022. A violência psicológica se destacou como a mais comum nos três países, com 28% das respostas no Brasil, 30% na Colômbia e 42% no Peru. Em segundo lugar, a violência moral foi mencionada, com 22% no Brasil, 12% na Colômbia e 19% no Peru.
A pesquisa, realizada em colaboração com 13 defensoras da Amazônia, teve como objetivo identificar essas mulheres, entender seus riscos e vulnerabilidades e instar os sistemas de proteção a considerar a dimensão de gênero em suas estratégias.
De acordo com Melina Risso, diretora de Pesquisa do Instituto Igarapé, “o problema começa na invisibilidade dos conflitos na Amazônia, relacionados ao direito à terra, à água e à preservação ambiental. Muitas vezes, são mulheres que lideram essa luta e acabam sendo vítimas de diferentes formas de violência.”
Outro dado relevante é que nem todas as mulheres engajadas na defesa dos direitos humanos e do meio ambiente na Amazônia se identificam como defensoras. Isso ressalta a importância de reconhecer e apoiar todas aquelas que atuam na proteção da região.
As entrevistadas relataram 19 tipos diferentes de violência, e um alto número de agressões foi atribuído a “desconhecidos,” sugerindo táticas de intimidação e silenciamento por parte dos agressores. No Brasil, proprietários de terras, fazendeiros, grileiros e posseiros foram apontados em 16% das respostas como perpetradores de violência. Além disso, o uso de “meios eletrônicos” – incluindo mídias sociais – como instrumentos de violência, foi mencionado por 43% das entrevistadas no Brasil.
A pesquisa faz parte do esforço contínuo do Instituto Igarapé para reconhecer, expor e proteger as defensoras da Amazônia. Um dado alarmante é que a maioria dessas mulheres não é remunerada por seu trabalho, o que contribui para sua invisibilização e vulnerabilidade.
Outros achados revelam o isolamento e a invisibilidade enfrentados pelas defensoras, conflitos decorrentes de projetos de infraestrutura e as razões pelas quais algumas delas deixaram seus territórios de origem. Além disso, metade das defensoras que sofreram violência não recebeu atenção adequada.
A pesquisa do Instituto Igarapé é um alerta para a necessidade de reconhecimento e proteção eficaz das mulheres corajosas que arriscam suas vidas na linha de frente da defesa da Amazônia e de seus habitantes.
O Instituto Igarapé é um think and do tank independente focado nas áreas de segurança pública, climática e digital e suas consequências para a democracia. Seu objetivo é propor soluções e parcerias para desafios globais por meio de pesquisas, novas tecnologias, comunicação e influência em políticas públicas.
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