“Só nos vejo saindo desta situação pela ação”

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A empreendedora cívica Ilona Szabó conversou com os confluentes sobre seu novo livro           

A cientista política e empreendedora cívica Ilona Szabó conversou com os confluentes em encontro exclusivo que teve como tema o seu mais recente livro, A defesa do espaço cívico. Ilona é presidente do Instituto Igarapé – um think and do tank independente, dedicado à integração das agendas de segurança, clima e desenvolvimento –, além de cofundadora do Movimento Agora e colunista da Folha de S. Paulo. Liderança renomada internacionalmente em questões como controle de armas, política de drogas, violência policial e ação cívica, Ilona foi classificada pela revista britânica Prospect como uma das 50 maiores pensadoras da atualidade.

Como Ilona vem reforçando desde o lançamento da obra, nos últimos anos assistimos no Brasil e no mundo ao fechamento do espaço cívico – a esfera pública onde cidadãos se organizam, debatem e agem para influenciar a opinião e as políticas públicas – pela ação deliberada de líderes com traços populistas-autoritários. E, por aqui, a situação tem sido cada vez mais preocupante. “O que temos visto no Brasil pode levar à expulsão de organizações, à proibição de financiamento internacional, à prisão de dissidentes. Isso está acontecendo em diversas das chamadas ‘democracias eleitorais’. E é o que somos hoje perante os think tanks que monitoram a democracia mundo afora: não somos mais uma democracia liberal, no sentido da garantia ampla de direitos, somos uma democracia eleitoral apenas. Fomos caindo nesse ranking”, explicou durante o encontro que aconteceu na noite de 25 de março, via Zoom.

No livro, a cientista política detalha como cada um de nós pode se opor a esse fechamento, criando formas de garantir as liberdades de uma sociedade saudável, justa e democrática. E um dos primeiros passos é o que chamou de entendimento da coletividade. “O momento atual escancarou o fato de que não adianta pensarmos apenas na nossa própria saúde, na nossa própria educação, nas nossas próprias liberdades, nos nossos direitos individuais. Só vamos ter o país que queremos se estivermos de fato pensando em como podemos proporcionar dignidade a todos, em como podemos trazer as pessoas para um lugar comum”, disse. Outro fator importante é a busca pela moderação. “Precisamos abrir a discussão política de que há de se encontrar uma moderação e, se possível, pessoas que componham esse espectro que antes era ocupado pelo PT e o PSDB. Esse é o lugar possível da polarização, o espectro aceitável da diferença política”, afirmou.

Ilona contou ainda um pouco sobre dos caminhos que a levaram a atuar na sociedade civil. Nascida e criada em Nova Friburgo, no interior do Rio de Janeiro, sentiu um grande impacto quando se mudou para a capital. “Não aceitei o fato de que temos uma sociedade partida e que não podemos circular em certos lugares e interagir com certas pessoas. Foi o que provocou a busca que me levou ao terceiro setor”, lembrou. Para ela, o brasileiro sempre teve uma tendência a normalizar a barbárie no Brasil. “A covid serve um pouco para chacoalharmos isso aí e pensarmos em como podemos achar normal ser o país com o maior número de homicídios há três décadas, como podemos achar normal ter, disparado, o maior número de mortes por policiais, como podemos achar normal ter uma população carcerária vivendo em lugares que os próprios ministros responsáveis chamam de ‘masmorras medievais’. A gente não tem como não se envolver ou não achar que temos um problema de consolidação democrática.”

A importância da filantropia e da doação também foi ressaltada na fala de Ilona Szabó. “A solidariedade vem aumentando, mas precisamos estar muito mais atentos à nossas responsabilidades. Eu sei que todo mundo tem milhões de coisas, precisamos cuidar de nós mesmos, mas, podendo doar, podendo ajudar, faça, porque tem muita gente sem condições de suprir suas necessidades mais básicas. Só nos vejo saindo desta situação pela ação. Quem pode, tem que fazer.”

 

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