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“O futuro socioambiental é uma construção coletiva”, por Inês Mindlin Lafer

Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo em 17 de abril de 2023

Após quatro anos em que a boiada passou desenfreada, o presidente Lula restabeleceu o Fundo Amazônia, reabriu canais represados na agenda socioambiental e, juntamente com a ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança Climática), redimensionou o que muita gente esperava: a retomada do Brasil como ator relevante na política global.

pauta ambiental vem guiando as conversas do presidente com lideranças internacionais. Mas o setor privado também tem papel essencial na proteção do meio ambiente. O modelo ambientalmente viável, o único possível, passa hoje pela promoção de cadeias produtivas sustentáveis baseadas na floresta e na biodiversidade, impulsionando a economia de baixo carbono e um modelo de desenvolvimento mais inclusivo.

A ministra Marina Silva já vem trabalhando com dedicação e competência junto à iniciativa privada, empreendedores sociais, representantes de fundos internacionais e organizações da sociedade civil.

Institutos de filantropia de Jeff Bezos, fundador da Amazon, e do ator Leonardo DiCaprio vão atuar para mobilizar outras entidades e captar recursos para o Fundo Brasil. Essa adesão de nomes “pop” é importante para mostrar a um grupo amplo de brasileiros que a defesa do planeta precisa ser uma tarefa de toda a sociedade.

Toda mesmo. Não são apenas celebridades e magnatas que podem trabalhar pelo meio ambiente. Precisamos nos incluir nesse grupo. Assim como as empresas têm que pensar para além da responsabilidade social e ambiental, buscando um impacto positivo real e duradouro, nós, cidadãos, temos mais a fazer do que separar nosso lixo e economizar água. Como? Via filantropia individual.

A filantropia ao nosso alcance não se limita à doação de agasalhos e de cestas básicas. Temos também a possibilidade de ajudar a encontrar soluções para mitigar os efeitos da crise climática, combater o desmatamento, proteger a biodiversidade e defender os povos originários. E o jeito de fazer isso é colaborando com as muitas organizações criativas e comprometidas que existem no país. Algumas atuam diretamente nas florestas, outras desenvolvem novas tecnologias ou trabalham buscando mudanças em políticas públicas. Juntas, elas têm o poder de suprir as inevitáveis brechas deixadas pelo Estado.

Segundo dados da Pnad Contínua, quem ganha pouco mais de R$ 10 mil por mês está entre os 5% mais ricos do país. O pouco que essas pessoas conseguirem doar, de maneira recorrente, será de valor inestimável não apenas para contribuir com o que os 95% restantes da população precisam, mas para ajudar a alcançar resultados que vão beneficiar a todos. Somadas, pequenas doações individuais têm o poder de ajudar a resolver os maiores problemas comuns.

Precisamos dos governos, das empresas, das fundações e, também, de cidadãos e cidadãs com engajamento, participação e colaboração. Há inúmeras causas urgentes, mas, se não formos capazes de deixar o meio ambiente equilibrado e saudável, todos nós, como indivíduos e sociedade, corremos sério risco. O futuro, afinal, é uma construção coletiva.

Inês Mindlin Lafer é diretora do Instituto Betty e Jacob Lafer, idealizadora do Confluentes (confluentes.org.br) e presidente do conselho do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife)

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