“Ser confluente me trouxe uma injeção de ânimo e me fez enxergar o poder do coletivo”
A rede de doadores do Confluentes não para de crescer! Um dos muitos confluentes que chegaram em 2024 foi o jornalista Thiago Medaglia.
Fundador da Ambiental Media, organização dedicada ao jornalismo investigativo baseado em ciência e dados, ele foi fellow do programa Knight de Jornalismo Científico do MIT, o mais prestigiado nessa área, e fez mestrado em História da Ciência na Universidade de Harvard, tendo sido orientado pela pesquisadora Naomi Oreskes, uma das maiores cientistas do campo social no mundo hoje. Thiago foi ainda editor da revista National Geographic Brasil, publicou reportagens em grandes veículos de imprensa e manteve uma trajetória sempre ligada à busca por qualificar o jornalismo baseado em ciência no país.
Conversamos com ele sobre sua trajetória, a importância da filantropia e as causas mais urgentes hoje. Vamos à entrevista!
Em poucas palavras: quem é você?
Sou jornalista, escritor e empreendedor. Busco promover mudanças estruturais por meio do jornalismo ambiental e científico.
Como você chegou ao Confluentes?
Cheguei ao Confluentes por intermédio de Maria Vitória Ramos, uma amiga querida e colega jornalista. Foi ela quem me apresentou à rede, e essa conexão me mostrou o potencial transformador dessa nova forma de filantropia.
O que é filantropia para você?
Filantropia, para mim, é sobre fomentar a transformação social de forma estruturada. É olhar para o coletivo e apoiar ações que tragam mudanças reais e duradouras para a sociedade.
Por que doar?
Doar é um ato de responsabilidade coletiva e de posicionamento político. É investir em mudanças que beneficiem não só o presente, mas também as próximas gerações. É entender que nossos privilégios e conquistas fazem parte de um todo maior, e assumir a responsabilidade de compartilhar para construir um futuro mais justo e sustentável.
Que causas você considera mais urgentes?
A causa mais urgente é, sem dúvida, a das alterações climáticas. É um tema transversal, que impacta diretamente as populações mais vulneráveis, como indígenas, comunidades tradicionais e populações periféricas em zonas urbanas, que são as primeiras a sofrer as consequências. Estamos lidando com o avanço da aridez no Brasil: escassez hídrica na Amazônia e no Cerrado; fogo na Amazônia e no Pantanal; o registro da primeira área desértica em território brasileiro na Caatinga. E tudo isso diante de uma agenda política dissociada da realidade climática. É preciso chamar a atenção para esses desafios por meio de abordagens que combinem dados, investigação de campo e comunicação inovadora. No caso da Ambiental Media, estamos trabalhando intensamente para analisar e comunicar esses impactos, por meio de uma narrativa acessível e atraente. Projetos como a análise de 50 anos de dados hídricos no Cerrado nos mostram a complexidade e a profundidade dessa crise. Precisamos de apoiadores que compreendam a magnitude do trabalho, que é traduzir essa realidade, cada vez mais urgente, de forma que mobilize e engaje a sociedade.
Antes de se tornar confluente, você já teve alguma outra experiência de engajamento social?
Sim. Minha história com o engajamento social vem desde a infância, quando meus pais mobilizavam empresários locais para doações de cestas básicas e nos levavam para ações sociais em comunidades carentes. Eu me lembro de visitar famílias em casas de pau a pique, levar brinquedos, roupas e cestas básicas e doar nosso tempo e atenção. Essas experiências marcaram profundamente a minha vida e moldaram minha consciência social e política.
O que mudou em sua vida desde que você se tornou confluente?
Ser confluente me trouxe uma injeção de ânimo e me fez enxergar o poder do coletivo. É perceber que, ao unir pessoas com capacidades e perspectivas diferentes, podemos multiplicar o impacto e apoiar quem está na linha de frente, como procuro fazer no jornalismo ambiental.
O que você diria para alguém que está pensando em começar a doar e a se engajar socialmente, mas não sabe bem como começar?
Comece com o que você pode, sem medo de errar. Conecte-se com redes como o Confluentes, onde cada pessoa contribui com o que tem, e juntos construímos algo muito maior. Procure doar a partir de um posicionamento político que não envolva superioridade, mas sim consciência.
Como é o Brasil dos seus sonhos?
O Brasil dos meus sonhos distribui renda e é um país onde as pessoas entendem que estamos todos no mesmo barco. Um país que valoriza a diversidade, a justiça social e que conserva a natureza para assegurar as condições fundamentais para a nossa existência e das próximas gerações. Não existe lado quando falamos de impactos da crise climática ou da devastação ambiental. É um só planeta, marcado por um mesmo ciclo hidrológico fechado, alimentado pelas mesmas águas há bilhões de anos. Não existe a produção agropecuária dissociada da preservação da floresta em pé e do direito à manutenção dos modos de vida tradicionais. Estamos ligados e somos também natureza, a gente queira ou não. Precisamos atuar pra que esse nível de conscientização floresça.
Ser confluente é…
… é perceber que juntos somos mais fortes. É sentir que estamos cercados de pessoas comprometidas com o coletivo e com a capacidade de transformar o Brasil. É uma esperança concreta, uma aposta no futuro, com ações reais e mão na massa.
Você leu recentemente algum livro ou assistiu a algum filme ou série que gostaria de recomendar aos outros confluentes e parceiros?
Recentemente li Mente afiada, de Sanjay Gupta, que fala sobre a saúde do cérebro. É um tema que considero essencial, especialmente para quem está envolvido em empreendedorismo social e precisa equilibrar propósito e bem-estar. O livro é baseado em ciência e trata da perda da capacidade cognitiva do cérebro conforme envelhecemos. Traz dicas simples, focadas em hábitos mais saudáveis e é daqueles trabalhos que mostram o quanto o conhecimento científico avançou em relação à saúde humana. É preciso olhar para as mudanças que queremos para o mundo de uma maneira que também inclua o nosso bem-estar emocional e mental. De certa forma, buscar atuar esses preceitos que defendemos. Não que seja simples, mas é uma busca que vale a pena ser vivenciada.