A defesa do meio ambiente é, sem dúvida, uma das causas prioritárias no Brasil e em todo o mundo. Se não cuidarmos do planeta, nossa única casa, qualquer outra luta terá sido em vão. Essa também é, portanto, uma das causas que balizam a atuação do Confluentes.
Dentro desse universo tão amplo de ações urgentes, listamos algumas que não podem ficar para trás.
1. Mitigação e adaptação às mudanças climáticas
As mudanças climáticas são impulsionadas pela ação humana no planeta, principalmente devido à industrialização e os avanços tecnológicos – que vêm, ano a ano, levando ao aumento da queima de combustíveis fósseis (como carvão, petróleo e gás natural).
Uma das consequências mais drásticas desse processo é o aumento da temperatura global. Hoje, segundo estimativa do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a média está cerca de 1,15°C mais alta que na era pré-industrial (1850-1900). Embora o Acordo de Paris, assinado por representantes de 196 países em 2015, tenha como objetivo manter esse aumento abaixo dos 2°C até o fim do século, a verdade é que muito pouco vem sendo feito para que isso de fato aconteça.
Segundo relatório da ONU divulgado em 2021, mesmo se todos os compromissos atuais com o corte de emissões de gases de efeito estufa forem mantidos, chegaremos ao fim do século com um aumento de pelo menos 2,7°C. Isso teria consequências drásticas para a vida na Terra.
O futuro de todos depende dessas mudanças – e por isso há poucas causas tão urgentes hoje, no Brasil e no mundo, do que a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas. A sociedade civil tem, nesse sentido, um trabalho fundamental de cobrar e propor caminhos aos governos.
2. Combate ao desmatamento
O Brasil tem muito a colaborar com o processo de mitigação das mudanças climáticas, principalmente pelo combate ao desmatamento. A mudança de uso do solo – ou seja, o processo pelo qual uma floresta é derrubada para dar lugar à agropecuária – libera uma grande quantidade de CO2 na atmosfera, contribuindo, assim, para o aquecimento global.
O desmatamento é responsável por quase a metade dos gases de efeito estufa emitidos no país. Na contramão do planeta, o Brasil aumentou as emissões durante a pandemia, motivado acima de tudo pela derrubada de florestas.
O Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do MapBiomas, rede colaborativa de ONGs, universidades e startups, divulgado em julho de 2022, mostra que o desmatamento cresceu 20% no ano anterior, com alta em todos os biomas – mas principalmente na Amazônia, que concentrou 59% de toda a área desmatada do período.
Em apenas três anos, o Brasil perdeu 42 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa, praticamente a área total do estado do Rio de Janeiro. Esse processo precisa ser revertido o quanto antes. Mais do que isso, além de frear o desmatamento, é preciso recuperar, via restauração florestal, áreas degradadas.
3. Proteção da biodiversidade
De acordo com “Convenção sobre diversidade biológica”, estabelecida na ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, diversidade biológica consiste na “variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, entre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas.”
A biodiversidade, portanto, é essencial para o equilíbrio da natureza e o bom funcionamento dos recursos ecossistêmicos do planeta – entre eles a alimentação humana. É a biodiversidade que sustenta nosso sistema alimentar, o que significa que, se não a protegermos, teremos, entre outros problemas, muito mais gente passando fome no mundo.
O Brasil tem aqui um papel mais uma vez essencial: país com maior biodiversidade no planeta, temos mais de 116 mil espécies animais e 46 mil vegetais conhecidas nos biomas terrestres e ecossistemas marinhos.
Por outro lado, segundo o IBGE, são mais de 3 mil espécies de animais e plantas em risco de extinção no país – sendo a Mata Atlântica o bioma mais ameaçado, seguido pelo Cerrado e a Caatinga.
4. Defesa dos povos originários
O aumento do desmatamento, seja para agropecuária ou para garimpo, é uma grande ameaça aos povos originários. Mais do que terem direito a suas terras e serem mantenedores de uma cultura riquíssima, os povos indígenas são grandes guardiões do meio ambiente: territórios indígenas tradicionais ocupam apenas 28% da superfície terrestre (13% no Brasil), mas abrangem 80% de toda a biodiversidade.
Além disso, eles utilizam recursos naturais para conservar e restaurar florestas, mantêm um sistema alimentar rico e sustentável e suas práticas agrícolas tradicionais estão mais adaptadas às mudanças climáticas.
No Brasil, porém, as ameaças às terras indígenas no período de 2011 a 2019 cresceram 74%, segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e há projetos de lei em tramitação que podem deixar essa situação ainda mais delicada.
5. Priorização da sociobioeconomia
A sociobioeconomia consiste na promoção de cadeias produtivas sustentáveis baseadas na floresta, na biodiversidade, na relação com os povos originários e as comunidades tradicionais. Ou seja, significa promover o desenvolvimento econômico mantendo a floresta de pé e impulsionando um modelo de desenvolvimento social mais inclusivo, impulsionando a economia de baixo carbono e colaborando com a mitigação das mudanças climáticas.
O Brasil, por abrigar uma das maiores reservas naturais do mundo, tem um grande potencial de se destacar mundialmente nessa agenda.
Segundo Floriana Breyer, coordenadora da rede Amazônia em Casa, Floresta em Pé, existe a possibilidade de termos uma nova indústria no Brasil, é disso que se trata a bioeconomia. É uma mudança estrutural, estamos falando de alterar o vetor de desenvolvimento econômico do país. É um mercado que vai precisar de investimento em pelo menos três frentes: logístico, soluções financeiras e em como escalonar produtos respeitando a floresta e seus povos.”
“Sociobioeconomia” é uma palavra ainda pouco conhecida, mas, a partir deste ano, precisa entrar no nosso vocabulário.
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