Por um Brasil mais generoso

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Pesquisa mostra que atividade de doação e voluntariado caiu no país                               

A quarta edição da pesquisa Brasil Giving Report 2021, realizada pela Charities Aid Foundation (CAF) e o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), mostra que, entre 2019 e 2020, a atividade de doação e voluntariado caiu no país de 78% para 72%.

Uma das causas para isso pode ser um dado encontrado na mesma pesquisa: com o impacto da pandemia na renda familiar, 60% tiveram uma diminuição em seus ganhos. Além disso, a grande maioria (84%), se mostrou preocupada com a segurança de sua própria renda familiar nos seis meses seguintes.

Ou seja, o aumento do nível de incerteza entre a população afetou a generosidade no período. O percentual de pessoas envolvidas em pelo menos uma atividade cívica (como assinar uma petição ou de uma manifestação, entre outras) caiu de 62% para 56%, enquanto o grupo dos que afirmam não participar de qualquer ação desse tipo disparou: passou de 28% para 44%. 

É possível, então, que a pandemia tenha tornado ainda mais difícil a consolidação de uma cultura de doação no Brasil. A mais recente edição do The World Giving Index, ranking também produzido pela CAF, divulgado em junho de 2021, mostrou o país em 54º entre os mais generosos do mundo.

Um dos fatores, como ressaltou Roberta Faria, presidente do Instituto MOL, ONG de fomento à cultura da doação, em reportagem da Folha de S. Paulo, os brasileiros não enxergam o apoio às ONGs como um ato de cidadania. “Nossa cultura de doação é centrada na caridade. Isso nasce da religião e tem peso até hoje. É algo pautado por emergência, quando tem enchente, desabamento etc. Não é um investimento privado numa causa, de forma recorrente, mês após mês”, disse.

Soma-se a isso o fato de, no Brasil, grande parte das pessoas que estão de fato no topo da pirâmide social não se enxergam nesse lugar. Segundo dados do IBGE, quem ganhou pouco mais de R$ 15 mil por mês está no 1% mais rico do país. Pode não parecer muito, mas 50% dos brasileiros têm um rendimento médio de R$ 453 mensais – pouco mais de um terço do salário-mínimo hoje.

“Ainda que o potencial de doação não seja igual ao das grandes fortunas, a soma das doações de muitos indivíduos pode fazer a diferença. Não temos a possibilidade de mudar tudo, mas temos a chance de mudar algumas coisas. Há quem possa assumir esse protagonismo, e possivelmente se surpreenderá com os resultados. A doação de recursos, neste caso, é capaz de mudar vidas – a vida de quem ajudamos e também a de quem ajuda”, escreveu Inês Mindlin Lafer, idealizadora e diretora do Confluentes, em artigo no jornal O Estado de S. Paulo.

A pesquisa Brasil Giving Report 2021 mostra ainda que as causas religiosas continuam ocupando o primeiro lugar escolhido pelos doadores (43%). Isso só comprova que a cultura de doação no país é baseada na caridade, muito ligada a crenças religiosas. Costumamos, então, tradicionalmente, associar a filantropia a essa ideia de caridade. Diversas organizações, afinal, vieram da igreja, então há ainda um vínculo entre a filantropia e o “fazer o bem” – o que acaba fazendo com que a filantropia fique muito concentrada em doações para grandes catástrofes e emergências.

Mas há um universo amplo dentro da filantropia. Ela também pode apoiar outras causas, projetos e ações capazes de fazer a diferença na sociedade, gerar mudanças estruturais e construir um país mais justo e democrático. É o que chamamos de filantropia estratégica.

“A filantropia para causas estratégicas reconhece a importância da doação para o atendimento das necessidades imediatas, mas não deixa de olhar para a ação sistêmica e de longo prazo. Também não pode, nem deve, restringir-se à atitude de filantropos milionários, fundos internacionais engajados em causas sociais, institutos e fundações empresariais ou empresas socialmente responsáveis”, escreveu Inês em artigo na Folha de S. Paulo.

Precisamos fomentar a cultura de doação no Brasil. E esta não é apenas a missão do Confluentes, é também o nosso trabalho. No Confluentes, a filantropia estratégica acontece a partir de uma rede de conexões, experiências e aprendizagem entre pessoas e organizações engajadas em fazer do Brasil um país mais justo e democrático. E o melhor é que todos podem participar. Visite doe.confluentes.org.br e torne-se confluente.

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