Enciclopédia Negra e O som do rugido da onça são as recomendações deste mês
Rafaela Deiab, da editora Companhia das Letras e curadora do nosso clube de leitura, tem novas dicas incríveis de dois livros que estão chegando às livrarias de todo o país.
Enciclopédia negra, de Flávio dos Santos Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Moritz Schwarcz
“O livro reúne 416 verbetes, alguns individuais e outros coletivos, sobre pessoas negras já falecidas. E a curadoria para a execução dessa enciclopédia levou em consideração muitas diversidades. São biografados de diferentes tempos históricos e de diversas regiões do Brasil, além de contar com uma paridade entre homens e mulheres. Os autores procuraram ainda dar uma maior visibilidade às populações LGBTQI+. Outra coisa interessantíssima é que a obra revela um passado que durante muito tempo foi silenciado pela história branca e eurocentrada. É uma enciclopédia – esse repositório de saber superinstitucionalizado, que vem desde o Iluminismo – que enfim revela as histórias de quem efetivamente construiu o Brasil. E, quando remexemos nesse passado e criamos as imagens para ele (foram encomendadas 103 imagens a 36 artistas contemporâneos), produzimos um imaginário que tem a possibilidade de mudar o futuro.”
O som do rugido da onça, de Micheliny Verunschk
“É uma obra da autora contemporânea Micheliny Verunschk, bem premiada, que já começa maravilhosa no título. O romance mistura memória, antropologia e uma outra versão da história. Narra sobre dois viajantes, naturalistas, que vieram ao Brasil no século XIX, Spix e Martius, e, depois de registrar suas impressões do país durante três anos, coletar exemplares da fauna, da flora, pedras, simplesmente também levam para a Europa com eles duas crianças indígenas. O que a autora faz é imaginar a vida dessas crianças, que foram levadas a Munique e faleceram logo em seguida. Ela urde esse passado, essa memória colonialista, com o presente, com uma personagem que se depara com uma ilustração dessas crianças e reconhece uma lacuna do seu próprio passado. É um romance memorialístico muito interessante e muito bem escrito.”