Médico sanitarista e ex-deputado conversou com os confluentes sobre o SUS
O ano de 2021 chegou e trouxe junto a tão aguardada vacina. Agora é a hora da distribuição, um momento crucial. O que vai acontecer? Qual o papel dos gestores públicos e da população? Como – e quando – a população será imunizada? São questões que deixam ainda mais evidente a importância do SUS para o Brasil. Para falar sobre tudo isso, recebemos Eduardo Jorge, médico sanitarista e político brasileiro, para conversar com os confluentes no nosso primeiro Evento Temático de 2021: “SUS – Passado, presente e futuro”. O bate-papo exclusivo aconteceu no dia 24 de fevereiro, via Zoom.
O passado
Eduardo Jorge foi deputado federal constituinte e um dos autores da Proposta de Emenda à Constituição 169/1993, que determinou a aplicação de um percentual mínimo de recursos pela União, pelos Estados e pelos municípios para a manutenção do SUS (Sistema Único de Saúde) com o financiamento das redes públicas, filantrópicas e conveniadas.
“O SUS não tem dono, precisa ser visto como um patrimônio, uma política pública nacional, de construção da nação. Sua criação foi uma revolução, a reforma social mais profunda e mais consequente da saída do período autoritário brasileiro: direito universal à assistência de saúde garantido por lei”, disse. “Quem compara, em termos de indicadores, o Brasil de hoje com o das décadas de 70 e 80 percebe o quanto avançamos nesse período com a proposta do SUS”, afirmou.
O presente
Hoje o SUS vive o que Eduardo chama de “prova de fogo”. “O nosso presente é uma época totalmente atípica. Passamos por uma pandemia de impacto mundial muito grave, em que mesmo sistemas maduros e experientes sofreram bastante”, disse. Ele lembrou ainda que o Brasil vive uma conjuntura muito particular. “Temos um presidente que não sabe que dois mais dois são quatro à frente de um sistema de matriz imperial, que concentra no mínimo 65% dos recursos orçamentários. Portanto, o poder que ele tem de desorientar, de desorganizar e de devastar políticas públicas é extraordinário. Estamos sendo atacados por dois flancos, o do vírus e o do presidente aloprado.”
Na opinião do ex-deputado, cada cidadão consciente deve hoje apoiar os governos de suas cidades e estados no que se refere à saúde. “Felizmente, dos governos comunistas aos conservadores, todos estão firmes, trabalhando, provando que nosso pacto baseado nos estados e municípios é muito sábio. A situação não é boa, temos muitas mortes, claro, porque a sabotagem de Brasília é realmente fortíssima. Precisamos agora seguir as orientações de distanciamento, de uso máscaras, de higiene e nos unir em torno dos governos estaduais e municipais, independente de partidos e simpatias políticas”, completou.
O futuro
Eduardo Jorge acredita que, em meio às dificuldades extremas que o Brasil atravessa, estamos criando uma espécie de consenso que pode, no futuro, ajudar a tornar o SUS ainda mais completo e eficiente. “Temos hoje a chance de provar que essa nossa ousadia que foi a criação do SUS não poderia ter sido mais acertada. Tem deficiências, muitas críticas estão corretas, as pessoas que ficam esperando atendimento têm razão de reclamar. Mas tem ficado claro para a maioria das pessoas o quanto o SUS é fundamental”, disse.
E a vacina? “Hoje o mundo tem cerca de 200 vacinas em construção, a força da ciência está se manifestando de forma estupenda. Essa escassez no começo é natural, estamos produzindo em um ano e meio algo que antes levaria quatro ou cinco, mas logo teremos uma quantidade muito grande de vacinas sendo ofertadas. Hoje são 10 ou 12, mas outras 50 estão na fila. Então essa situação vai melhorar muito, e com uma rapidez que nunca vimos antes.”
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