Filantropia: para quê?

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Inês Mindlin Lafer apresentou o Confluentes em conversa com o psiquiatra Taki Cordás     

No dia 5 de junho, Inês Midlin Lafer, idealizadora do Confluentes, apresentou o projeto na live “Filantropia: para quê?”, no canal do YouTube do psiquiatra Taki Cordás. Foi uma conversa esclarecedora, de onde destacamos, abaixo, algumas falas de Inês.

O que é filantropia
“Quando vamos ao dicionário para saber o que é filantropia, encontramos a ideia de amor à humanidade e generosidade. Algum tempo atrás o setor teve uma onda de profissionalização e, mais recentemente, voltamos a reforçar a ideia voluntária de generosidade em relação ao outro. Filantropia é, portanto, a atuação voluntária de recursos privados para o bem público e para as ações públicas.”

Filantropia não é “pilantropia”
“Cada vez mais encontramos pessoas capazes de fazer uma boa prestação de contas e atuar profissionalmente no terceiro setor. Mas a confusão entre filantropia e “pilantropia” tem muito a ver com a lei brasileira de licitações. A lei permite que o governo contrate organizações sem fins lucrativos sem passar pelo processo licitatório. Nessa brecha legal, encontramos organizações de fachadas, ou que não fazem aquilo que deveriam fazer. Por isso cada vez menos organizações sérias têm usado essa brecha legal para não serem confundidas com organizações “pilantrópicas”. Mas não é porque há uma parcela pequena de organizações de fachadas que devemos criminalizar todas as organizações do terceiro setor. A esmagadora maioria é séria.”

Como decidir onde e em qual organização investir?
“Quando resolvemos contratar alguma empresa para realizar serviços para nós, costumamos usar alguns indicadores: pedimos recomendação a amigos, verificamos sites de reclamações, procuramos na imprensa para saber o que falam desta empresa, e assim por diante. Com causas e organizações é preciso seguir a mesma estratégia. Pessoalmente costumo olhar para algumas coisas antes de apoiar uma organização. Significa, por exemplo, responder a diversas perguntas como: que organização é essa? A que causa ela se dedica? Essa causa é importante? A organização tenta resolver parte de um problema que precisa ser resolvido? Ela é reconhecida? Quem financia? Quem está no seu conselho? Quem a lidera? Tem formação para tanto? Como ela atua? Como vejo seu discurso na mídia e nos fóruns adequados? O que essa organização faz de interessante o que a causa em que ela atua tem a ver comigo? Dá vontade de ser parte dessa causa?”

O Confluentes
“O Confluentes é uma iniciativa de mobilização de recursos pessoas físicas, mas voltada não para pessoas milionárias, aquelas que estão no mais absoluto topo da pirâmide. São valores de doação factíveis para quem tem um pouco mais para doar, mas não necessariamente é milionário. A ideia do Confluentes é que, ao mesmo tempo em que você faz uma doação pagando um valor anual, tem acesso a uma série de benefícios: encontros temáticos, discussões reservadas sobre democracia, clima, questões de gênero, justiça e desigualdades, além de conversas com artistas, lideranças políticas, clube de leitura… Queremos ainda, quando passar a pandemia, realizar encontros presenciais nos quais será possível criar redes de relacionamento e ampliar seu network com pessoas também interessadas em fazer parte da mudança social. Trabalhamos temas que talvez tenham ficado ainda mais necessários e urgentes, afinal a pandemia escancarou a desigualdade brasileira. Tem sofrido mais quem está numa posição de maior vulnerabilidade. O desafio será como atuar depois para sair dessa crise em que estamos mergulhados.”

Recursos doados chegarão na ponta?
“É sempre um desafio não só saber se a organização é confiável como também saber se o dinheiro será bem utilizado. O recurso de quem doa para o Confluentes é direcionado para cinco diferentes organizações. A estrutura do Confluentes é paga por organizações que defendem certas causas estratégicas, como Instituto Betty e Jocob Lafer, OAK Foundation, Open Society e Instituto Ibirapitanga. Entre essas causas estratégicas estão justiça, segurança pública, gênero, igualdade racial, clima, fortalecimento da democracia, relações entre governo e cidadão. São causas que são pouco financiadas no Brasil. A partir daí fazemos uma curadoria de organizações a serem apoiadas pelo Confluentes. Neste primeiro ano são cinco organizadas apoiadas pela iniciativa. Sabemos que elas entregam resultados que prometem entregar, com uma gestão honesta e eficiente. São organizações que conhecemos, confiamos e apoiamos.”

Organizações apoiadas pelo Confluentes
“As cinco organizações apoiadas pelo Confluentes são: Agência Pública, uma agência independente fundada por jornalistas mulheres, a primeira agência de jornalismo investigativo sem fins lucrativos do Brasil; Ceert, organização que implementa programas de promoção à igualdade racial e de gênero em instituições públicas e privadas; Vetor Brasil, organização dedicada a colocar jovens talentos em cargos comissionados em diferentes governos, liderados por governadores de diferentes partidos; Olabi, que trabalha pela democratização das tecnologias; e Papo Reto, coletivo de comunicação independente composto por jovens moradores dos complexos do Alemão e Penha, no Rio de Janeiro.”

Sem filiação política e partidária
“O Confluentes é uma iniciativa sem filiação política e partidária. Nos dedicamos a uma série de causas que apoiamos e que costumam ser apoiadas por um conjunto de partidos, mas somos uma iniciativa apartidária.”

Aliviar a culpa ou fazer a transformação?
“No Confluentes há três faixas de doação: 5, 10 e 20 mil reais, que podem ser parcelados no cartão de crédito. Mas pessoas que não podem ou não querem chegar a esse valor podem fazer filantropia estratégica. De fato, costumamos associar a filantropia a essa ideia de caridade. Muitas organizações, afinal, vieram da igreja, então há esse vínculo entre olhar o dinheiro de uma forma pecaminosa, fazer o bem, doar para pagar os pecados. Há um universo grande na filantropia: as mais assistenciais, as mais assistencialistas, até ações filantrópicas que podem ser mais estratégicas. Por filantropia estratégica pensamos em mudanças sistêmicas. Portanto, há diferentes maneiras de se engajar e de fazer. Cada um escolhe o que tem mais a ver consigo.”

Pandemia: um momento propício para empatia, solidariedade e a filantropia
“No momento da pandemia certas necessidades ficaram muito evidentes. Somos um país de muita desigualdade, e as pessoas se mobilizaram muito. O desafio é fazer com que essa mobilização siga quando passar a fase mais aguda da crise. A empatia, a solidariedade e a doação andam juntos: podemos fazer algo maior para um conjunto de pessoas e isso fazer sentido para a minha vida. Não só para aliviar a consciência, mas porque isso faz sentido para o lugar onde eu moro e para o que eu penso.”

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