Celso Athayde e Raull Santiago conversam sobre desigualdade e a pandemia

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Ativistas sociais participaram de encontro on-line com confluentes                       

Na sexta, dia 29 de maio, Confluentes realizou um encontro virtual aberto a todos os seus apoiadores e parceiros. Celso Athayde, da CUFA (Centra Única das Favelas), e Raull Santiago, do Coletivo Papo Reto, organização apoiada pelo Confluentes, conversaram com a gestora Carolina Arruda Botelho sobre o papel da sociedade civil em meio à pandemia e a desigualdade.

Em parceria com outras organizações que atuam no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, Raul criou o Gabinete de Crise do Alemão.

“Na favela não é todo dia que abrimos a torneira e sai água. E a dificuldade de cumprir o isolamento em casas de madeira muito pequenas, de dois ou três metros quadrados, onde moram famílias muito numerosas, é imensa. Percebemos desde o início que era fundamental que houvesse uma comunicação que, sem ignorar as realidades desiguais do país, reforçasse cuidados e noções de coletividade para a sobrevivência neste cenário. Como nem todos estão on-line, usamos cartazes, faixas, carros de som, repetindo as estratégias dos eventos locais para dialogar com o máximo de pessoas. Mas logo nos deparamos com a fome, que vem atingindo as favelas numa velocidade e intensidade que não esperávamos. Então, além de trabalhar com comunicação, tivemos que pensar em estratégias imediatas para ajudar as pessoas que começavam a nos procurar para pedir ajuda e também para pressionar o poder público.”

Celso falou de como a CUFA, organização brasileira há 20 anos reconhecida nacional e internacionalmente nos âmbitos político, social, esportivo e cultural, se adaptou para tentar aplacar as consequências da Covid-19.

“São mais de 5,2 milhões de mães morando em favelas, e elas são as mais afetadas, pois 36% delas trabalhavam informalmente ou como autônomas, recebendo por semana ou quinzena. Então, depois de quinze dias de quarentena, acabou o dinheiro, a renda foi reduzida a zero. E ainda estão cuidado dos filhos, que ficaram foram da escola. Mas, quando fomos levar doações a essas mães, muitas delas diziam: ‘Obrigada, estou muito feliz, mas não tenho gás para cozinhar o feijão’. Então percebemos que precisávamos dar também autonomia a essas mulheres. Foi assim que criamos o projeto Mães da Favela Digital, que está transferindo renda para essas mulheres, R$ 120 por mês, em dinheiro.”

Para Celso, sem ações do poder público para promover o crescimento econômico e a distribuição de renda, a atuação da sociedade civil se torna cada vez mais importante.

“Este é um momento de reflexão, mas não podemos nos contentar em apenas refletir. As favelas estão dando um exemplo de solidariedade, humanidade e responsabilidade em meio à pandemia. As pessoas das comunidades percebem que estão sendo ajudadas, mas sabem também que são elas que seguram este país. São elas que acordam cedo, pegam ônibus lotados, barcas, trens, metrô e vão trabalhar para o mercado não fechar, para o hospital funcionar. Estamos num navio, enquanto essas pessoas estão se afogando. Jogamos algumas boias, mas, quando a pandemia passar, teremos que trazê-las para dentro.”

Raull concorda que é preciso que diversos setores da sociedade ajam juntos para dar o próximo passo e tentar reverter um abismo social se torna cada vez maior.

“A pandemia expôs como é gritante e absurda a desigualdade. E a participação da sociedade civil tem sido o grande vetor de um impulso de reflexão sobre como podemos reduzir a gravidade do que tem acontecido. Acredito que este momento que vivemos deixou claro um desenho, mostrou quem está disposto a chegar junto, quem está querendo criticar, quem está no meio disso tudo tentando sobreviver. Agora precisamos conectar essas pontas e seguir em frente. E para isso o Confluentes tem sido uma ferramenta central, importantíssima, pensando em conexões, buscando uma aproximação real. Juntos, agora, nossa missão é provocar o restante da sociedade.”

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